domingo, 2 de outubro de 2016

A pessoa com defíciência na minha história de vida


          A maior parte da minha vida escolar foi em escola pública. Há cerca de 40 anos atrás, a maioria dos estudantes iam para escolas estaduais e eu fiz o fundamental 2 numa escola profissionalizante (antiga escola industrial ) . Depois terminei meus estudos num colégio particular e segui minha graduação e pós graduação. Nessa trajetória não havia parado ainda para pensar como havia sido a minha relação histórica com as pessoas com deficiência.          
          Quando pensamos no tipo de sociedade que queremos viver, no tipo de escola que nossos filhos deveriam estudar, em quais tipos de relações interpessoais queremos construir com nossos semelhantes provavelmente pensemos que seria tão bom se pudéssemos viver em um mundo onde as pessoas se respeitassem igualmente nas suas diferenças.
          E quando pensamos na questão da pessoa com deficiência , podemos ver quanta coisa vem mudando ao longo da história. E quando digo mudando, me refiro a como a sociedade e as pessoas em geral olham para a pessoa com deficiência. Realmente acho que muita coisa mudou!
         Me lembro quando era criança e tínhamos um vizinho que todos diziam que ele "não era muito bom da cabeça" . Provavelmente tivesse deficiência intelectual, não sei dizer, pois naquela época essas coisas não eram explicadas para as crianças. Mas lembro bem que a família dele o escondia, mas as pessoas do bairro e minha própria família me diziam que era para tomar cuidado com ele pois não se sabia qual seria a sua reação com crianças. Foi a primeira vez que me deparei com uma deficiência na minha vida. Devi ter cerca de 5 anos.
          Na escola não havia pessoas que eu pudesse dizer que tinham alguma deficiência muito visível. Naquela época eu não sabia da existência por exemplo do Déficit de Atenção e Hiperatividade e muitos dos meus amigos eram tachados pelos professores e até pelos próprios colegas de "burros" , "que não param quietos" ,  " que vivem no mundo da lua" e assim por diante.  E depois vim a saber que também naquele tempo as pessoas com deficiência não frequentavam a escola regular e muitas vezes ficavam escondidas pelas famílias em casa. Imagine isso?
          E assim passei a minha graduação e idade mais adulta tendo pouco contato com pessoas que eu pudesse me lembrar que tivessem algum tipo de deficiência. Me casei, tive a minha primeira filha , comecei a ter mais contato com crianças e participar da vida escolar dela.
          Ao mesmo tempo,  participei de um movimento para fazer um levantamento de quantas pessoas no município poderiam ser atendidas pela escola APAE, que iria ser implantada na cidade por iniciativa de um clube de serviço local. Assim comecei a ter contato com esse universo antes pouco conhecido por mim. E por incrível que pareça, naqueles anos do início de 2000, para uma cidade com não mais que 15 mil habitantes, levantamos a existência de quase 150 pessoas que precisariam de uma assistência especializada. Muitas delas vivam escondidas pelas famílias e outras não davam a assistência necessária por não ter onde levar as crianças. Assim nasceu a APAE no nosso município, que por mais de 15 anos fez um trabalho com muita dedicação dos profissionais envolvidos . Cuidavam de adultos e crianças de diversas idades.
          Até que chegaram as primeiras indicações de que as crianças deveriam ir para as escolas regulares. No início foi um choque para os representantes das APAEs, mas pelo que percebo atualmente essa transição vem sendo feita e podemos ver como as crianças estão sendo gradativamente incluídas e trabalhadas nas escolas regulares de ensino. Isso para mim foi uma grande mudança!
          Como professora de Ensino Técnico e Superior, nestes últimos anos estamos recebendo alguns alunos  que necessitam de um olhar mais diferenciado ( não que TODOS não precisem deste mesmo olhar...), e que a escola precisa se instrumentalizar e se capacitar para recebê-los. Considero esse movimento extremamente saudável e enriquecedor. Esse caminho realmente é o caminho para a construção de uma sociedade mais humanizada e que aprenda a aceitar e conviver com diferenças.
          Estou neste caminho para aprender. E cada dia novas situações surgem e nos provocam para novos aprendizados! .... e assim vamos!
          E você ? O que acha disso?